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Insatisfação é generalizada com salários
e condições. Mesmo com Compromisso da Construção, crise se agrava no
setor e afeta principais obras do país
Por Repórter Brasil
São Paulo - Operários que trabalham na construção
da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, maior obra em curso do país,
declararam greve geral na manhã desta quinta-feira, 29 de março. Eles
reivindicam melhores salários e condições de trabalho. O clima de
insatisfação já era generalizado desde o começo da semana e se agravou
com a morte do operador de motosserra Francisco Orlando Rodrigo Lopes,
atropelado por uma retroescavadeira na tarde de quarta-feira, 28. Os
trabalhadores estimam que 5 mil aderiram à greve e afirmam que a obra
foi interrompida. A assessoria de imprensa do Consórcio Construtor Belo
Monte (CCBM) diz que a empresa não recebeu pauta de reinvidicações e não
há uma estimativa do alcance da paralisação, mas que a obra não foi
paralisada na sua totalidade.
A
greve em Belo Monte soma-se às paralisações em andamento nos canteiros
de obra das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, em
Rondônia, onde 43 mil estão parados, e é mais um episódio da crise que
afeta o setor. Menos de um mês após a assinatura do Compromisso da Construção, problemas graves persistem nas grandes obras,
para as quais o acordo foi pensado. As denúncias de violações
trabalhistas e reclamações continuam nos canteiros das empreiteiras que
participaram do acordo, apresentado pelo Governo Federal como base para
uma mudança de paradigma no setor. O consórcio responsável por Belo
Monte é captaneado pela Andrade Gutierrez, construtora que está entre as
que assinaram. Segundo a assessoria de imprensa, a empresa não se
posiciona separadamente sobre Belo Monte e todas as informações
relativas à greve devem ser obtidas junto ao CCBM.
No tocante ao salário, além de pedirem reajustes, os operários de
Belo Monte reclamam de cortes e mudanças no pagamento das horas no
deslocamento até a cidade, o in itinere. Os trabalhadores
alegam que a empresa deixou de pagar o valor correspondente ao tempo
perdido no percurso, o que, para alguns, representou cortes de até R$
600. A mudança estaria ligada à transferência de trabalhadores da cidade
para os canteiros de obras, o que tornaria desnecessário o custo.
Questionada sobre a mudança, a assessoria de imprensa do consórcio
afirmou não poder se posicionar porque a empresa não recebeu ainda a
reclamação por meio dos sindicatos, de maneira oficial. Um dos pontos
previstos no Compromisso da Construção é a presença permanente de
representantes dos trabalhadores nos canteiros, de modo a agilizar as
negociações e diminuir a possibilidade de paralisações.
Além de
reclamarem do valor que têm recebido, os trabalhadores também
manifestaram insatisfação em relação à maneira como os salários são
pagos. Segundo relato ouvido por Ruy Sposati, jornalista do Movimento
Xingu Vivo, articulação formada para denunciar os impactos sociais e
ambientais da obra, o último depósito foi feito em uma discoteca.
"Tratam a gente que nem bicho… Ficam 5 mil trabalhadores numa fila
enorme, entra de seis em seis [no escritório provisório]. É muito
inseguro, eles dão o dinheiro na nossa mão. Conheço três que foram
roubados logo que saíram de lá", afirmou o trabalhador.
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